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Metrologia e calibração: na manutenção de elevadores

Metrologia e calibração: aplicação prática na manutenção de elevadores

Todos os técnicos que trabalham com equipamentos de medição, mais cedo ou mais tarde, acabam por ser confrontados com uma pergunta sacramental, seja por clientes ou por auditores: “E esse equipamento está calibrado?”.

No presente artigo procura explicar-se por que razão surge essa pergunta e de que forma lhe podemos responder.

Medição e medida

Comecemos por nos questionar para que serve um equipamento de medição, qualquer que ele seja. Sabemos que um voltímetro nos permite conhecer a tensão de um circuito elétrico; que um termómetro nos ajuda a saber a tempe­ratura de uma máquina; que usamos uma fita métrica para medir alturas, larguras e distân­cias; que com um luxímetro ficamos a saber se a iluminação de um local é suficiente para o fim a que se destina; entre outros. Todos es­ses instrumentos de medição (voltímetro, ter­mómetro, fita métrica, luxímetro, entre muitos outros) têm algo em comum: o conhecimento que nos dão sobre o mundo que nos rodeia, conferindo-nos a capacidade de tomar decisões adequadas e tecnicamente fundamentadas. Po­demos assim afirmar que medir é saber.

A palavra medição designa o ato de medir. Chama-se medida ao resultado da medição. Utiliza-se também o termo unidade de medi­da para nos referirmos à grandeza com a qual comparamos outra grandeza (do mesmo tipo) para a exprimir sob a forma de um valor numé­rico (por exemplo, em “230 V; 50 Hz; 16 A” são utilizadas 3 unidades de medida: volt, hertz e ampere, respetivamente).

Para que o nosso conhecimento seja correto e assim possamos tomar decisões adequadas, é essencial que a informação que nos chega seja rigorosa. Ora, os equipamentos de medição são produtos mais ou menos complexos e são cons­tituídos por numerosos componentes, cada um dos quais está sujeito à variabilidade inevitável de todos os dispositivos físicos. Estão sujeitos a utilização em condições que muitas vezes estão longe de ser as ideais (por exemplo em locais que tanto podem estar a temperaturas muito altas como muito baixas, com poeiras, com hu­midade, entre outras). Sofrem quedas no trans­porte e sobrecargas durante o seu uso.

Sabe­mos também que a passagem do tempo exerce a sua ação inexorável sobre qualquer objeto. É por isso fácil de perceber que qualquer equipa­mento de medição pode apresentar erros, que comprometem a sua adequada utilização. Mes­mo que o equipamento seja novo (e até mesmo de alguma marca muito reputada), o erro esta­rá sempre presente nas medições que com ele efetuarmos. Não é por isso exagero dizer tam­bém que medir é errar. Se o erro da medição for demasiado elevado, e tendo em conta que há decisões importantes que são tomadas em função dos resultados obtidos nas medições, as consequências desse erro podem ser muito sé­rias: como, por exemplo, aprovar uma máquina que apresenta deficiências graves (com impac­tos negativos para os utilizadores dessa má­quina e em consequência disso com prejuízos para a empresa), ou reprovar uma outra que, na verdade, cumpre os respetivos requisitos (com óbvios prejuízos para o seu fabricante). Os cus­tos de uma má decisão (baseada em medições erradas) podem ser muito elevados, ou mesmo incomportáveis para a empresa.

Calibração, verificação e confirmação metrológica

Sendo assim, da mesma forma que um eleva­dor ou um veículo automóvel devem ser pe­riodicamente sujeitos a inspeções que avaliam a sua segurança, também um equipamento de medição deve ser regularmente objeto de uma operação técnica designada por calibração, a qual tem por objetivo avaliar se as caraterís­ticas metrológicas, que conduziram à escolha inicial desse equipamento, se mantêm dentro dos limites estabelecidos. Em função dos re­sultados assim obtidos, devem ser tomadas decisões relativas à continuação em serviço do equipamento.

A necessidade de efetuar a calibração dos equipamentos pode surgir da iniciativa do pró­prio utilizador, que se quer assegurar de que está a medir corretamente, ou ser uma exigên­cia de terceiros, como sejam clientes, organis­mos oficiais ou entidades certificadoras.

Comecemos por ver algumas definições importantes neste contexto. Para isso, vamos socorrer-nos do Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM), que é o documento oficial nesta matéria. Segundo o VIM (definição 2.39), calibração é a:

“operação que estabelece, sob condições especificadas, num primeiro passo, uma rela­ção entre os valores e as incertezas de medição fornecidos por padrões e as indicações corres­pondentes com as incertezas associadas; num segundo passo, utiliza esta informação para es­tabelecer uma relação visando a obtenção dum resultado de medição a partir duma indicação.”

Nesta definição, surge o conceito de incer­teza de medição, que segundo o mesmo VIM (2.26) é o:

“parâmetro não negativo que carateriza a dispersão dos valores atribuídos a uma mensu­randa, com base nas informações utilizadas.”

É importante perceber que incerteza e erro são conceitos muito diferentes. O erro é a dife­rença entre o valor indicado pelo equipamento e o valor que ele está efetivamente a medir, ao passo que a incerteza é a “margem de dúvida” em torno do resultado obtido.

Como se percebe da definição, a calibração só por si não assegura que o equipamento está a medir corretamente, pois apenas determina os seus erros (“relação entre os valores […] fornecidos por padrões e as indicações corres­pondentes [do equipamento]”). A análise dos erros obtidos e as decisões que decorrem des­sa análise fazem parte do que se designa por confirmação metrológica, a qual está definida na norma internacional ISO 10012, que preten­de ser um documento auxiliar para quem utiliza as normas de sistemas de gestão da série ISO 9000. Na citada norma ISO 10012, secção 3.5, diz-se que a confirmação metrológica é:

“O conjunto de operações necessárias para assegurar a conformidade de um equipamento de medição com os requisitos da utilização pre­tendida”.

Na prática, é muito importante perceber a diferença entre os conceitos de calibração e de confirmação metrológica. O mais habitual é que a calibração seja feita por um laboratório acreditado, externo à empresa. Cabe depois ao detentor do equipamento a responsabilidade de analisar os resultados obtidos (apresentados num certificado de calibração) e de tomar as de­cisões adequadas no que se refere à reposição em serviço desse equipamento. No caso de equi­pamentos novos, mesmo que de marcas bem conhecidas, é importante verificar se já são for­necidos com certificados de calibração válidos. Não é usual que o fornecedor entregue tais cer­tificados, salvo se a calibração for solicitada em simultâneo com a encomenda do equipamento, o que implica normalmente custos adicionais.

Paulo Cabral
pc@iep.pt
Coordenador da Especialização em Metrologia da Ordem dos Engenheiros
Diretor de Normalização
IEP – Instituto Electrotécnico Português

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